Deu tudo errado! E agora?

Pérolas

Viver nos dias atuais é desafiante. Muito mais, acredito que seja uma tarefa para os grandes.

Lutamos, batalhamos, trabalhamos muito e nos esforçamos muito para sermos seres humanos melhores e na maioria do tempo sentimos que grande parte dos nossos esforços são em vão. Nadamos, nadamos e morremos na praia.

O namoro não deu certo. Apesar de ótimo profissional, fomos demitidos, nossos familiares não nos entendem e fazem uma tempestade em copo de água, por isso, todo aquele esforço, praticado durante meses para ser uma pessoa mais calma, mais centrada se esvai num só segundo, logo após alguém ameaçar desmoronar o nosso castelo de areia.

Destilamos o nosso veneno e passada a raiva, nos assustamos, por não conhecermos em profundidade o nosso lado mais sombrio.

Deu tudo errado.

O sonho de ser empresário ruiu antes de vingar, a promoção foi para aquele desafeto gerando a sensação de não ser bom o bastante, a demissão que faz nosso mundo desabar, o término de relacionamento que nos fere e mata um pouco da nossa esperança no amor e nos relacionamentos.

Mesmo após todo o nosso esforço e dedicação, algumas coisas simplesmente não dão certo, ou ás vezes, dão muito errado e nos questionamos sem parar: por que comigo?

A primeira pergunta que eu faço é: por que não com você? Somos todos iguais.

Vivemos experiências e dilemas parecidos e por isso mesmo, é importante que nesses momentos, que soam como portais que se fecham, nos darmos à oportunidade de nos reciclar e melhorar como seres humanos.

Desafios se apresentam para que possamos crescer, melhorar, aprimorar, reciclar, se reinventar. Quem era você antes, quem é você agora e o mais importante quem você será após toda a turbulência passar?

Está mais do que provado através da nossa história e evolução que somos completamente capazes de reconstruir nossas vidas, nossos mundos, mesmo que tudo nos seja tirado, atingindo novos patamares tanto material quanto espiritualmente.

Cidades desaparecem em tsunamis, terremotos, enchentes. Grandes perdas em acidentes. Tragédias acontecem a todo momento com todos nós.

Só devemos nos questionar: serei eu o escolhido?

Lógico que aqui estou dando os exemplos extremos, mas se no extremo, existe uma imensa força interior que emerge e faz com que nos salvemos, porque em coisas menores nos perdemos?

As nossas tragédias pessoais são oportunidades de fazer tudo diferente, de efetivamente começar uma nova vida, com parâmetros, conhecimentos, habilidades e valores que até então não foram utilizados.

Elas acontecem e automaticamente começam a testar a nossa resiliência, força, coragem, determinação e superação.

Você é capaz de continuar sonhando ainda que tudo que você considera importante, ainda que o seu alicerce seja retirado de você?

Você ainda será capaz de ver a beleza nas pequenas coisas se não estiver no olho do furacão?

Você é capaz de se apaziguar e compreender que assim com existem dias de sol, temos tempestades e que elas não são eternas e que nos dias que se seguirão o sol voltará a brilhar de forma ainda mais radiante?

Podemos lamentar e nos tornarmos vítimas da nossa própria tristeza, ou podemos arregaçar as nossas mangas e procurar as oportunidades que surgem nesses cenários. E elas sempre surgem, mas devemos estar atentos para reconhecê-las.

Só reconhece quem não se sente vítima de uma circunstância. Isso não quer dizer que devemos reprimir a nossa tristeza, a nossa indignação, o nosso sentimento de pequenez diante dos acontecimentos que nos tiram o chão.

Deu vontade de chorar? Chora!

Deu vontade de dormir para esquecer? Durma!

Deu vontade de comer um pote de sorvete para esquecer? Se lambuze!

Faça o que for preciso para viver o luto, mas não use essas atitudes como muleta para estagnar. Sinta a tristeza. Ela é legítima, mas até para a nossa tristeza devemos impor limites.

Não se esqueça que a cada dia a reconstrução deve ser feita. Não se esqueça que você é responsável pela sua reconstrução. Algum passo precisa e deve ser dado todos os dias na direção da recuperação do nosso EU.

Os passos serão dados e os melhores dias virão. Como temos certeza que não nos faltará o ar para respirarmos. Você não vai dormir preocupado com o ar que respirará enquanto estiver dormindo. A natureza é abundância.

Creia. Tenha fé. Em você. No fluxo da vida. Na sua força interior.

Com o passar dos dias, com o passar do tempo, você olhará para trás com a certeza que está mais forte, mais corajoso e tem muito mais bagagem para enfrentar as adversidades da vida.

Você se verá como um ser humano melhor, para você e para os demais.

Compreenderá que o seu poder de transformação é muito maior do que imaginava.

Desconstrução

Desconstrução1Desconstrução.

“Há um ano eu morri. Esse ano eu vou sobreviver!”

Na verdade é frase veio na negativa e eu preferi simplesmente, alterar para uma forma que o cérebro entenda de primeira.

Bom, estou aqui novamente para desconstruir. Mas o que é a desconstrução? E para que ela serve? Qual o objetivo? Quais são os benefícios?

O principal benefício de uma desconstrução é a construção de algo novo, baseado em parâmetros mais verdadeiros e alinhados com o que somos no mais íntimo.

Tudo o que somos hoje, é baseado em autoconhecimento, mesmo que não pareça. Mesmo que neguemos e mesmo que por várias vezes tenhamos fugido de nós mesmos.

Talvez alguns já tenha dado início à essa longa jornada, que vai questionar a si mesmo e os outros, romper laços, fazer doer mentalmente e fisicamente, deixar coisas para trás, literalmente e metaforicamente, de ideias a casa, família e até seu país.

O autoconhecimento traz paz, felicidade, alegria, contentamento. Traz serenidade. Traz o sentido. Mas nada disso é possível se você não desconstruir. Se você não olhar para dentro de si e fizer uma análise fria e calculista do que efetivamente é seu, o que ainda serve para você e seu futuro e o que você quer efetivamente levar nessa nova jornada.

E aí vem a parte mais difícil. Separar, romper, quebrar os laços, jogar no lixo, abandonar os velhos hábitos, pensamentos, formas de expressão da vida que se leva.

É desapegar de toda a nossa história e de tudo que passamos e conhecemos, para nos dar a verdadeira oportunidade de conhecer a pessoa mais legal e interessante do mundo: nós mesmos.

Esse é o primeiro passo para a desconstrução. Desapegar.

desconstrução
A primeira impressão que temos do mundo é baseada na visão que os nossos pais têm a respeito da vida. As primeiras impressões de quem somos, são baseadas no que aprendemos na nossa família, na nossa casa.

Observando as pessoas que estão à nossa volta no dia-a-dia, vamos nos preenchendo, portanto, as nossas crenças são herdadas, não são realmente nossas. Aprendemos através do que os outros aprenderam baseados nas leis invisíveis e daninhas da nossa sociedade. Aprendemos baseados no próprio desconhecimento dos nossos pais sobre si mesmos, nas suas próprias neuroses, através seus traumas não trabalhados e passados para frente em forma de “lição de vida”.

E crescemos escutando a palavra “não”. E crescemos com o preconceito das mais variadas formas, e crescemos muitas vezes achando que somos responsáveis pelos problemas dos nossos pais. E ficamos inseguros. E ficamos neuróticos também. E ficamos com medo, ainda que mostremos força e coragem. E construímos esse indivíduo que somos nós baseados em impressões de mundo particular que não é o nosso. E depois nos achamos uma fraude.

E o nosso medo nos empareda dia a dia. E a casca que se forma para proteção, também repele e afastamos aqueles que deveriam estar ao nosso lado. Muitas vezes àqueles que mais tem a nos ensinar as novas lições que são mais sincronizadas com o nosso verdadeiro “eu”.

Escutamos uma série de mentiras sinceras, que são para nos livrar dos males da vida. Humm, que males são esses se começamos a carregar nas costas os fardos que nos deram maquiados de sabedoria, ensinamentos e lições?

Lá no íntimo, no fundo, questionamos baixinho para verificar se aquilo está certo mesmo, porque temos uma impressão que há algo errado e temos muito, mas muito medo de imaginar que nossos pais de fato, podem ter errado.

Nos sentimos sós e carregando o peso imenso de uma bagagem maior da que deveríamos carregar.

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Faço uma analogia à “Junk Lady” do filme Labirinto. Ela vai carregando nas costas todas as tralhas que “julga” ser importantes. Todas as tralhas que ela gosta, ama e tem apego e vai ensinando a menina, a Sarah, a fazer o mesmo. Como se carregar todos esses acessórios, deixasse-nos mais preparados para a vida, como se esses acessórios, façam de você um ser humano mais forte.

A intenção é ótima. O resultado…

E nós acreditamos nisso, e vamos juntando as nossas tralhas metafóricas, como armas para seguir uma vida baseada num conhecimento que na verdade não temos sobre nós mesmos.

Funciona. Por um tempo. Mas sentimos a falta de mais. Sentimos muito a falta, a saudade, a necessidade de algo muito importante:

“De nós mesmos!”

A tarefa de educar e formar um ser humano autônomo e conhecedor de si mesmo é para mim a tarefa mais importante e difícil que um pai e uma mãe pode ter na vida. junk lady

Aí entra o desapego. Você deve dar um basta e parar de pegar o que não é seu. O que não te pertence. OK! Se até agora serviu, mas não te faz mais feliz: Pare!

Aprenda a dizer não. Mesmo que seja para si mesmo. Baixinho. Sem que percebam.

Depois você aumenta o tom. E as pessoas a quem você dirá: Não!

Devemos sempre jogar fora os velhos conceitos, impressões, questões morais duvidosas, preconceitos, crenças que nos limitam, medos que nos impedem.

Devemos tirar a nossa bagagem das costas e fazer uma análise fria e calculista, avaliando primeiramente o que realmente nos pertence, o que faz parte da sua neurose, o que são impressões de uma vida enfiadas goela abaixo e manter somente o que lhe pertence e que daqui para frente vai servir para a sua missão de vida.

Devemos olhar com carinho, para as nossas lições aprendidas, para os amores vividos, para os sucessos passados, agradecer e gentilmente depositá-los no jardim do passado, pois no presente eles também se tornam peso na nossa bagagem.

O restante deve ser jogado fora, queimado, analisado, exterminado, após o agradecimento pelos anos de utilidade.

Sim, devemos também agradecer a tudo e a todos, um agradecimento sincero, aquele que aquece o coração, pois essa bagagem serviu para a sua sobrevivência, essa bagagem foi também a sua arma de vida para não enlouquecer. É insano, pois aquilo que nos atormenta hoje, que nos inquieta e que de certa forma deprime, certamente exatamente o que nos fez sobreviver e vencer tantas vezes.

Desapegar para desconstruir. Falar é fácil, escrever é fácil. Mas dói muito. Sangra. Não literalmente, mas por causa das nossas feridas. Machuca. Dá crises de choro. Dá diarreia, por causa do processo mental envolvido na fase anal (fases do desenvolvimento de Freud), dá vontade de comer tudo ou beber aos montes (fase oral) para nos trazer àquela velha sensação de como era bom sermos alimentados e finalmente dá vontade de sumir, para não ter que olhar para si mesmo, para ter que não sentir a dor de ter que deixar novamente as costas eretas e aprender andar com a cabeça erguida, após tanto tempo carregando uma bagagem que não era nossa.

Nesse caminho, perderemos muito. Talvez seja mais um caminho de perdas nesse primeiro momento. E como não fomos ensinados a perder, a largar, a deixar ir para que novas coisas venham, resistimos até que estejamos exaustos. Até que não possamos mais, até que a vida se encarregue de nos provar, muitas vezes através da dor, aquilo que resistimos enxergar.

É por isso que esses processos acontecem na maioria das vezes devido às grandes crises da vida de cada um. Independente dos motivadores, porém, se você não remar contra a correnteza, se você também acha que há mais para aprender sobre si mesmo, sendo e provando quem se é efetivamente, para que possa trazer a sua verdadeira contribuição para a sociedade, então, experimenta uma sensação maravilhosa de abertura para o que é novo.

Ser um ser humano que escuta as impressões do mundo, mas que é preenchido de si mesmo. Ao final do processo de desconstrução, você estará vazio, completamente desnudado dos conceitos e preconceitos,  daquilo que não mais é útil ou não lhe pertence e poderá começar finalmente fazer a pergunta:

“Quem sou eu hoje?”

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